Anotações pessoais da aula de Estética Urbana (14/11/2007) PPGAU-UFBA
Seminário com a Professora convidada Helena Katz, PUC-SP*
Temas propostos para o agenciamento:
Projeto, processo e criação
1. Projeto, processo e criação: são entendimentos que vão dar em processos epistemológicos hegemônicos. Para alargar isso, existe a necessidade de se praticar outras semânticas. Boaventura Santos fala da Epistemologia do Sul[1] como uma epistemologia que abriga as emergências e as invisibilidades, onde as situações diferenciadas emergem. As hegemonias, o discurso científico, não dão visibilidade e quase sempre mantém na invisibilidade outras racionalidades.
2. A vinculação temporal entre o Projeto, Processo e Criação necessita ser dilatado. Na vida acadêmica o projeto antecede temporalmente a criação. É preciso repensar essa relação, criar outro vínculo, outra maneira que não esse cinturão positivista.
3. A criação partindo do “sempre novo” (Foucault): criação como processo permanente de invenção. Os nossos processos cognitivos estão a todo momento inventando o mundo, e não representando. A percepção não é um ato passivo. A criação não é o resultado de um projeto como dizem os positivistas. A criação nos seres humanos é um processo de criação de mundos possíveis. Sempre novo (Foucault). As coisas novas são modo de representação do que já existe. Não existe o novo, mas é sempre novo.
4. As coisas não partem do ponto “0”. O novo é uma constante re-invenção possível. Cada um de nós é uma coleção de informações que está o tempo inteiro inventando. A criação é uma condição permanente do vivo, que aparece, por exemplo, na criação de objetos. Mas aí não é mais criação. Só passa a ser quando o outro “olha” esse objeto e re-cria. A criação não é o resultado de um projeto mumificado. A criação positivista já não é mais criação. É um mausoléu, congelado. O projeto é criação, o processo é criação. A “Criação pronta” é a menos criação.
5. Hábitos perceptivos: o corpo está o tempo todo fazendo projetos. Hábitos perceptivos. Criamos cotidianamente com nossos hábitos perceptivos. Fazemos todos os dias nossos projetos, que formalizam nossas percepções. O corpo faz isso cognitivamente. É no cotidiano, é no corpo. Não só a arte é criação. É preciso expandir essa idéia.
6. Acumulação: A idéia de Trisha Brown de acumulação diferencia-se de uma idéia de “depósito”. A informação nova “acumulada” já altera a anterior. Não é uma acumulação do movimento em si mesmo. Cada movimento novo já altera o anterior.
7. Idealismo objetivo[2]: O mundo é objetivo, mas a minha descrição não é objetiva. Mas não é também subjetiva. É um “acordo”. É uma simulação possível. Um acordo entre o que tem lá fora e o que eu sou capaz de absorver.
8. Ato criativo é um ato perceptivo. Todo ato perceptivo é um ato criativo. Atos criativos são atos proto-invenção. A invenção é um congelamento. O projeto é uma questão moderna. Será que ainda precisamos disso? Ou podemos pensar em termos de processo? Pensando na criação constante o projeto desaparece. Segundo a epistemologia do sul, devemos repensar isso. O projeto moderno já começa com seu fim estabelecido.
9. A cidade: A cidade é uma ficção. O que nós temos são percursos. O que temos são situações cerceadas pelos nossos hábitos perceptivos. “Não moro em São Paulo. Moro em parte da minha São Paulo, que são meus percursos, meus hábitos perceptivos.”
Seminário com a Professora convidada Helena Katz, PUC-SP*
Temas propostos para o agenciamento:
Projeto, processo e criação
1. Projeto, processo e criação: são entendimentos que vão dar em processos epistemológicos hegemônicos. Para alargar isso, existe a necessidade de se praticar outras semânticas. Boaventura Santos fala da Epistemologia do Sul[1] como uma epistemologia que abriga as emergências e as invisibilidades, onde as situações diferenciadas emergem. As hegemonias, o discurso científico, não dão visibilidade e quase sempre mantém na invisibilidade outras racionalidades.
2. A vinculação temporal entre o Projeto, Processo e Criação necessita ser dilatado. Na vida acadêmica o projeto antecede temporalmente a criação. É preciso repensar essa relação, criar outro vínculo, outra maneira que não esse cinturão positivista.
3. A criação partindo do “sempre novo” (Foucault): criação como processo permanente de invenção. Os nossos processos cognitivos estão a todo momento inventando o mundo, e não representando. A percepção não é um ato passivo. A criação não é o resultado de um projeto como dizem os positivistas. A criação nos seres humanos é um processo de criação de mundos possíveis. Sempre novo (Foucault). As coisas novas são modo de representação do que já existe. Não existe o novo, mas é sempre novo.
4. As coisas não partem do ponto “0”. O novo é uma constante re-invenção possível. Cada um de nós é uma coleção de informações que está o tempo inteiro inventando. A criação é uma condição permanente do vivo, que aparece, por exemplo, na criação de objetos. Mas aí não é mais criação. Só passa a ser quando o outro “olha” esse objeto e re-cria. A criação não é o resultado de um projeto mumificado. A criação positivista já não é mais criação. É um mausoléu, congelado. O projeto é criação, o processo é criação. A “Criação pronta” é a menos criação.
5. Hábitos perceptivos: o corpo está o tempo todo fazendo projetos. Hábitos perceptivos. Criamos cotidianamente com nossos hábitos perceptivos. Fazemos todos os dias nossos projetos, que formalizam nossas percepções. O corpo faz isso cognitivamente. É no cotidiano, é no corpo. Não só a arte é criação. É preciso expandir essa idéia.
6. Acumulação: A idéia de Trisha Brown de acumulação diferencia-se de uma idéia de “depósito”. A informação nova “acumulada” já altera a anterior. Não é uma acumulação do movimento em si mesmo. Cada movimento novo já altera o anterior.
7. Idealismo objetivo[2]: O mundo é objetivo, mas a minha descrição não é objetiva. Mas não é também subjetiva. É um “acordo”. É uma simulação possível. Um acordo entre o que tem lá fora e o que eu sou capaz de absorver.
8. Ato criativo é um ato perceptivo. Todo ato perceptivo é um ato criativo. Atos criativos são atos proto-invenção. A invenção é um congelamento. O projeto é uma questão moderna. Será que ainda precisamos disso? Ou podemos pensar em termos de processo? Pensando na criação constante o projeto desaparece. Segundo a epistemologia do sul, devemos repensar isso. O projeto moderno já começa com seu fim estabelecido.
9. A cidade: A cidade é uma ficção. O que nós temos são percursos. O que temos são situações cerceadas pelos nossos hábitos perceptivos. “Não moro em São Paulo. Moro em parte da minha São Paulo, que são meus percursos, meus hábitos perceptivos.”
.
* Helena Katz nasceu no Rio de Janeiro, onde se graduou em Filosofia. Começou no jornalismo em 1977, no Jornal da Tarde, colaborou com a Folha de S. Paulo e diversas outras publicações, entre as quais as revistas IstoÉ, Dançar, Marie Claire, SomTrês, Íris, Caderno Idéias do Jornal do Brasil, e Nicolau. Trabalha atualmente como crítica de dança do Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo. No programa de Estudos em Pós-graduação e Semiótica da PUC-SP, onde se doutorou em 1994, coordena o Laboratório de Dança e atua como professora participante. Sobre dança, escreveu os livros Danças Populares Brasileiras (São Paulo, Projeto Cultural Rhodia, 1989), O Brasil Descobre a Dança Descobre o Brasil (São Paulo, Dórea Books and Art, 1994), Grupo Corpo Companhia de Dança (Belo Horizonte, Salamandra, 1995) e DAS - Um Olhar Contemporâneo (São Paulo, Annablume, 1995), além de vários artigos e prefácios para livros sobre dança. (http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/autores/hkatz.htm)
[1] Título: A gramática do tempo. Autor: Boaventura De Sousa Santos. Editora: Cortez Editora
[2] PEIRCE, C. S
* Helena Katz nasceu no Rio de Janeiro, onde se graduou em Filosofia. Começou no jornalismo em 1977, no Jornal da Tarde, colaborou com a Folha de S. Paulo e diversas outras publicações, entre as quais as revistas IstoÉ, Dançar, Marie Claire, SomTrês, Íris, Caderno Idéias do Jornal do Brasil, e Nicolau. Trabalha atualmente como crítica de dança do Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo. No programa de Estudos em Pós-graduação e Semiótica da PUC-SP, onde se doutorou em 1994, coordena o Laboratório de Dança e atua como professora participante. Sobre dança, escreveu os livros Danças Populares Brasileiras (São Paulo, Projeto Cultural Rhodia, 1989), O Brasil Descobre a Dança Descobre o Brasil (São Paulo, Dórea Books and Art, 1994), Grupo Corpo Companhia de Dança (Belo Horizonte, Salamandra, 1995) e DAS - Um Olhar Contemporâneo (São Paulo, Annablume, 1995), além de vários artigos e prefácios para livros sobre dança. (http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/autores/hkatz.htm)
[1] Título: A gramática do tempo. Autor: Boaventura De Sousa Santos. Editora: Cortez Editora
[2] PEIRCE, C. S
Comentários