Sobre resistir
Nessa sociedade de controle, neste contexto biopolítico, “o que significa resistir? Será que essa palavra tem ainda algum sentido? Se há algumas décadas a resistência obedeceria a uma matriz dialética, de oposição direta entre as forças em jogo, onde havia um poder concebido como centro de comando e que caiba a todos disputar, com a subjetividade identitária dos protagonistas definida pela sua exterioridade recíproca e complementaridade dialética (dominante/dominado, colonizador/colonizado, explorador/explorado, patrão/empregado, trabalhador intelectual/manual, professor/aluno, pai/filho etc.), o contexto pós-moderno, dada sua complexidade, suscita posicionamentos mais oblíquos, diagonais, híbridos, flutuantes. Criam-se outros traços de conflitualidade. Talvez com isso a função da própria negatividade, na política e na cultura, precise ser revista. Com o diz Negri: ‘Para a modernidade, a resistência era uma acumulação de forças contra a exploração, que se subjetiva através da ‘tomada de consciência’. Na época pós-moderna, nada disso acontece. A resistência se dá como a difusão de comportamentos resistentes e singulares. Se ela se acumula, ela o faz de maneira extensiva, isto é, pela circulação, a mobilidade, a fuga, o êxodo, a deserção: trata-se de multidões que resistem de maneira difusa e escapam das gaiolas sempre mais estreitas da miséria e do poder. Não há necessidade de tomada de consciência coletiva para tanto: o sentido da rebelião é endêmico e atravessa cada consciência, tornando-a orgulhosa. O efeito do comum, que se atrelou a cada singularidade enquanto qualidade antropológica, consiste precisamente nisso. A rebelião não é, pois, pontual nem uniforme: ela percorre ao contrário os espaços do comum e se difunde sob a forma de uma explosão dos comportamentos das singularidades que é impossível conter. É nisso que se pode definir a resistência da multidão’[1]
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[1] Negri in Pelbart, Peter Pál. Mutações Contemporênas in Estéticas da Biopolítica: audiovisual, política e novas tecnologias. Programa Cultura e Pensamento 2007. Disponível em http://www.revistacinetica.com.br/cep/index.html
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